sábado, 21 de dezembro de 2024

A Frase (320)

Assistimos, durante décadas, ao repúdio crescente do nacionalismo, do patriotismo e do Estado nação. Este último recuou em todas as frentes, em todos os aspectos. Na economia e na cultura, na sociedade e na política. Pior ainda, os casos mais evidentes de manutenção do nacionalismo foram, em geral, os de ditaduras. Da China à Rússia, da Coreia a Cuba, passando por vários Estados africanos e asiáticos que inventaram histórias nacionais para justificar poder autoritário. 

Parecia que a liberdade e a democracia se alimentavam da globalização e nela criavam raízes. Até que se percebeu que a desnacionalização e a globalização tinham uma capacidade autoritária devastadora, eram capazes de destruir países e nações, mais ainda democracias e liberdades. (António Barreto, Público, via Jacarandá)

Não há solução fácil para os problemas de imigração e de acolhimento. Mas a passividade é a pior atitude. Deixar correr, não tentar controlar, não ordenar, não definir horizontes, não estipular condições e não fazer um colossal esforço de integração são erros crassos cujos preços a Europa começa a pagar. 

Ter medo da imigração é ter medo da liberdade. Deixar correr as migrações é destruir a liberdade. Qualquer povo tem o direito de definir, por vias e métodos legítimos, os povos que quer receber. Assim como as condições legais, sociais e culturais de integração. A começar pela língua, evidentemente. E sempre, mas sempre, no respeito pela lei do país.

A Primeira Palavra


Acompanhando a recente curvatura da terra
o primeiro olhar descreveu a sua órbita
sobre as oliveiras. Só mais tarde
a pomba roubaria o ramo
e iria de árvore em árvore propagar a primavera.
Foi então que os olhos se cruzaram
e estava dita a primeira palavra
a superfície do tempo.

(Ruy Belo)

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Notícias Ao Fim Da Tarde


A Frase (319)

O Relatório Draghi assinala, e bem, a baixa eficácia e produtividade da I&DT financiada pela Comissão Europeia e por muitos governos nacionais, com uma grande dispersão de programas.

Caminhamos para sermos um museu industrial, amarrados a uma estrutura industrial estática, com poucas empresas a conseguirem inovações disruptivas ou novos motores de crescimento.  (Luís Mira Amaral, J Económico)

É evidente que a existência nos EUA de muito mais empresas de grande dimensão nos setores tecnológicos do futuro, face ao pequeno número de empresas congéneres europeias e com menor dimensão que as americanas, explica por que razão há um grande financiamento das empresas privadas americanas, coisa que não acontece na Europa.

Também é preciso notar que muitas startups europeias vão depois para os EUA para poderem mais facilmente escalar sem as barreiras e segmentações dos mercados europeus, e poderem também aproveitar o dinamismo quer dos fabulosos mercados de capitais americanos, quer da indústria de private equity e venture capital.

Matar O Sonho


Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma.
O sonho é o que temos de realmente nosso,
de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.

(Fernando Pessoa)

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Notícias Ao Fim Da Tarde

A Frase (318)

Já todos perceberam que o governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, quer aproveitar ao máximo os últimos meses do seu mandato para deixar recados políticos. Desta vez, no Boletim Económico de dezembro (BE-dez) do BdP, sinaliza-se um regresso do défice público, um aumento da desigualdade de rendimentos com o novo IRS Jovem e um baixo efeito de um corte de IRC.

  Nos três casos, só se focam os aspetos negativos ou pessimistas das políticas subjacentes, não os principais efeitos positivos que estiveram na base da sua adoção, o que leva a conclusões também negativamente enviesadas, reduzindo a credibilidade da análise. Infelizmente, parece que o regulador, em vez de se dedicar a análises de política económica objetivas, abordando quer os prós quer os contras das medidas, se foca apenas nos contras e nas manchetes de (tele)jornal.    (Óscar Afonso,ECO)

Breve O Inverno Virá Com Sua Branca


Breve o inverno virá com sua branca
Nudez vestir os campos.
As lareiras serão as nossas pátrias
E os contos que contarmos
Assentados ao pé do seu calor
Valerão as canções
Com que outrora entre as verdes ervas rijas
Dizíamos ao sol
O ave atque vale triste e alegre,
Solenes e carpindo.
Por ora o outono está connosco ainda.
Se ele nos não agrada
A memória do estio cotejemos
Com a esperança hiemal.
E entre essas dádivas memoradas
Como um rio passemos.

 (Poema de Ricardo Reis. Fernando Pessoa)

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Notícias Ao Fim Da Tarde

A Frase (317)

Irresponsabilidade, desorientação, desencontro de gerações, perda de valores, grandes incertezas sobre o futuro, caos nas ideias, na política, nas relações internacionais, são qualificativos estruturantes do Mundo de hoje. (João Abel de Freitas, J Económico)

A futura equipa presidencial dos EUA, escolhida a dedo, cheia de gente negacionista da Ciência, o caso da saúde com Robert F. Kennedy Jr., no comando, é aberrante, um homem anti-vacinas, felizmente contestado por um grupo de Prémios Nobéis ligados a temas de saúde; os representantes do grande capital, corporizados na gestão político-económica do país em que Elon Musk é o protagonista nº1 subjugando o país aos interesses de uma ínfima minoria, é, no mínimo, um tremendo caos. (...)

A Coreia do Sul, onde o Presidente Yoon decreta a Lei Marcial, alegando razões absurdas,(...)

O Mercosul merece reflexão e celeridade, mas sem perceber as razões que levam grande parte dos agricultores europeus a manifestarem-se; sem corrigir as políticas europeias, em si, mal calibradas, a competitividade da agricultura da Europa não se resolve.

Não havia razão para mais uma fissura entre a Comissão e os países. Já existem tantas e muitas outras estarão na forja, a partir de 20 de Janeiro, complicando as relações de entendimento na Europa.

Caos e irresponsabilidade grassam no Mundo e, sobre as guerras, o cansaço e as informações pessimistas predominam, desde as deserções na Ucrânia que apontam para centenas de milhares e de mortes também dessa ordem, a sondagens que não se sabe se existiram ou não, em que elevadas percentagens dos europeus exigem negociações de paz e um clima de desilusão contagiante por toda a Europa.

Reina uma sensação de fim de ciclo. Urge equacionar, sem mais delongas, ajustamentos profundos em cada pólo económico e na relação entre si. Mas quem serão os agentes da passagem para o novo ciclo, se quem domina as relações mundiais não está para largar, de ânimo leve, as alavancas do poder, sem luta, seja de que tipo for…?